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Síndrome do túnel do carpo na esfera trabalhista

As doenças do sistema musculoesquelético continuam sendo as maiores causas de incapacidade e absenteísmo na população de trabalhadores em geral. O impacto dessas afecções reflete em número considerável de reclamações e processos trabalhistas. O perito médico e o médico do trabalho precisam estar familiarizados com essas doenças e seus fatores de risco para que os primeiros possam realizar uma avaliação isenta e embasar seus laudos tecnicamente, e os segundos, atuar na sua prevenção e em diagnóstico precoces.

As doenças do sistema musculoesquelético continuam a figurar entre as principais causas de incapacidade e absenteísmo na população de trabalhadores em geral. Conforme a população trabalhadora envelhece, esse quadro tende a continuar naturalmente. O impacto dessas afecções reflete-se em número considerável de reclamações e processos trabalhistas.

A Síndrome do Túnel do Carpo (STC) é a mais frequente das síndromes compressivas e é definida pela compressão e/ou tração do nervo mediano ao nível do punho. Sua primeira descrição é atribuída a Paget, que reportou um caso de compressão do nervo mediano em consequência de uma fratura do rádio distal. A partir dos anos 1950, os trabalhos de Phalen estabeleceram os princípios da STC. Sua prevalência é estimada entre 4 e 5% da população, sobretudo entre 40 e 60 anos.

Sinais e Sintomas

Síndrome do túnel do carpo na esfera trabalhista

Estudos transversais têm demonstrado prevalência de 9,2% nas mulheres e 0,6% nos homens, com pico de incidência entre 40 e 59 anos. Os sinais e os sintomas clínicos mais comuns são: dor, hipoestesia e parestesia no território de sensibilidade do nervo mediano (particularmente no polegar, dedo indicador e médio e face radial do dedo anular), com piora noturna dos sintomas.

Caracteristicamente, os sintomas de parestesia e dor noturna acordam o paciente durante o sono e melhoram com uso de tala para imobilização do punho e com movimentos da mão e do punho. A dor pode ter irradiação proximal para o braço e o ombro. O paciente pode referir diminuição de força de preensão e, em estágios mais avançados, pode-se observar hipotrofia da musculatura tenar.

Fatores de Risco de Natureza Ocupacional

Na literatura nacional, foram relatadas atividades em posições forçadas e/ou com gestos repetitivos1,2, alta força e/ou alta repetitividade. Observou-se que a associação de movimentos repetitivos e baixas temperaturas aumenta o risco, bem como a flexão e a extensão de punho repetidos, principalmente se associados com força, a compressão mecânica da palma das mãos, o uso de força na base das mãos e as vibrações. A síndrome afeta especialmente digitadores, trabalhadores que lidam com caixas registradoras, telegrafistas, costureiras, açougueiros e trabalhadores em abatedouros de aves ou em linhas de montagem.

Foram, principalmente, relatados como fatores de risco de origem ocupacional o uso de força manual acima de 4 kg e a repetitividade (processadores de carnes e peixes), altos níveis de vibração dos membros superiores (lenhadores que utilizam motosserras) e trabalhos prolongados com os punhos em extensão ou flexão (montadores de componentes eletrônicos).

A STC também pode apresentar-se após fraturas do rádio distal e/ou luxações da articulação radio cárpica e secundária a traumas decorrentes ou não de acidentes de trabalho.

Fisiopatologia

Síndrome do túnel do carpo na esfera trabalhista

Do ponto de vista fisiopatológico, uma síndrome compressiva combina fenômenos de compressão e tensão. Anatomicamente, existem dois locais de compressão do nervo mediano: o primeiro é no nível do limite proximal do túnel do carpo, ocasionado pela flexão do punho em razão da alteração na espessura, na rigidez da fáscia antebraquial e na porção proximal do retináculo flexor; e o segundo no nível da porção mais estreita, próximo do hâmulo do hamato.

Compressão e tração nervosa podem criar, de maneira sequencial, problemas na microcirculação sanguínea intra-neural, lesões no nível da bainha de mielina e no nível axonal, e alterações no tecido conjuntivo de suporte.

O complexo sintomático da STC depende de dois mecanismos:

  1. Alteração reversível rápida das fibras nervosas, relacionada à isquemia, também chamado bloqueio agudo fisiológico rapidamente reversível;
  2. Anormalidade estrutural que se desenvolve lenta-mente nas fibras nervosas,como resultado da pressão abaixo do retináculo flexor (ligamento transverso do carpo).

CLASSIFICAÇÃO ANATOMOCLÍNICA DE LUNDBORG

  • Estágio precoce (inicial): sintomatologia intermitente unicamente noturna.
  • Estágio intermediário: os sintomas são noturnos e diurnos.
  • Estágio avançado: há sintomas permanentes e, sobretudo, sinais de déficit sensitivo ou motor traduzidos pela interrupção de um número de axônios mais ou menos importantes (axonotmeses).

Etiologia

Síndrome do túnel do carpo na esfera trabalhista

Como hipóteses de sua etiologia estão o espessamento do tecido sinovial ou a compressão por outras estruturas no túnel do carpo, levando ao aumento continuado da pressão dentro desse túnel, a qual também se eleva com posição de flexão ou extensão do punho.

Traumatismo: deslocamento, por fratura do rádio distal ou luxação do punho; infecção; hemorragia por overdose de anticoagulante ou em caso de hemofilia; injeção de alta pressão; trombose aguda da artéria do nervo mediano; e queimadura

Síndrome do túnel do carpo dinâmica

  • A pressão no interior do túnel do carpo aumenta em extensão e em flexão do punho.
  • Movimentos repetitivos: flexão-extensão do punho, flexão dos dedos e supinação do antebraço foram implicados nesse aumento. Esses gestos podem ser vistos em patologias ocupacionais.
  • STC e trabalho em computadores: uma tendência ao aumento foi demonstrada para além de 20 horas por semana.
  • Exposição à vibração: representa um dos fatores predisponentes menores.

Tratamento

Os tratamentos nas formas não deficitárias da STC são a infiltração de corticoide e/ou uma órtese de imobilização noturna. O tratamento cirúrgico, que compreende a secção do retináculo dos flexores (RF – retinaculotomia), é indicado em caso de resistência ao tratamento conservador nas formas deficitárias ou, mais frequentemente, nas formas agudas.

Nas técnicas minimamente invasivas (endoscópica e mini-open), independentemente de a curva de aprendizado ser mais longa, parece que a recuperação funcional é mais precoce em relação à cirurgia clássica, mas com os resultados em longo prazo idênticos, no caso da cirurgia convencional, a cicatriz cirúrgica palmar é de cerca de 5 a 6 cm, enquanto que nas técnicas supracitadas é de aproximadamente 2 cm (mini-open) e 1 cm (endoscópica). Portanto, as cicatrizes menores estão, de modo geral, relacionadas a um retorno mais precoce às atividades, excluídas outras complicações.

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