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O câncer E a Relação Com o Trabalho

Sendo uma das principais causas de mortes prematuras no mundo e a segunda causa de mortes no Brasil(BRASIL, 2019), o câncer é um grave problema de saúde pública, tendo a frequência, surgimento ou gravidade modificados pelo trabalho. Estima- se que 26% do total de trabalhadores vítimas de doenças relacionadas ao trabalho em 2015 morreram em decorrência do câncer, e que 319.000 mortes e 6,42 milhões de anos de vida ajustados por incapacidade foram associados à exposição a um conjunto de carcinógenos ocupacionais em 2017. Então qual a relação do câncer com o trabalho, a Pericialmed te explica! O câncer E a Relação Com o Trabalho

As concentrações de substâncias cancerígenas, em geral, são maiores nos locais de trabalho do que em outros ambientes extralaborais. Segundo as estimativas da Organização Internacional do Trabalho (OIT), aproximadamente 440 mil pessoas morreram no mundo em 2005 como consequência da exposição a substâncias perigosas no trabalho. Mais de 70% dessa cifra, ou seja, aproximadamente 315 mil pessoas, morreram de câncer relacionado ao trabalho. Uma proporção significativa dos casos de câncer decorrente do trabalho teve como causa a exposição ao amianto (OIT, 2009; EUROGIP, 2010).

Embora o câncer seja uma doença multifatorial – e alguns fatores causais sejam difíceis de serem modificados – cerca de 80 a 90% dos casos estão associados às causas externas modificáveis e evitáveis. Dentre essas causas estão aquelas já reconhecidas e documentadas exposições nos ambientes e processos de trabalho, responsáveis por aumentar o risco da ocorrência de diferentes tipologias de câncer, não apenas na população trabalhadora, como também na população geral.

O câncer E a Relação Com o Trabalho

Ainda que já seja estabelecido que as distintas tipologias de câncer resultem de complexas interações entre os fatores genéticos e ambientais (que compreendem tanto os fatores ambientais propriamente ditos quanto os relativos aos ambientes laborais), o trabalho apresenta-se como um fator de risco para o câncer, ou seja, o trabalho é um atributo ou uma exposição que está associada a uma probabilidade aumentada de ocorrência da doença, uma vez que os trabalhadores podem estar expostos a fatores indutores e promotores de carcinogênese ou a produtos químicos cocarcinogênicos, ou seja, produtos que na presença de outras substâncias (iniciadores ou promotores) predispõem ao desenvolvimento de tumores (BRASIL; INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER, 2013; LASFARGUES, 2018).

O que se entende como câncer relacionado ao trabalho?

O CRT (Câncer Relacionado ao Trabalho) é definido por ter sua frequência, surgimento ou gravidade modificados por agentes, fatores e condições ocupacionais carcinogênicas. Nessa terminologia se enquadram a maioria das tipologias de câncer quando possuem relação com o trabalho.

O CRT resulta da exposição do trabalhador a substâncias no seu ambiente de trabalho que aumentam o risco de desenvolver um câncer. Assim, o trabalho pode ser:

“… um fator de risco contributivo, mas não necessário…”

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para o desenvolvimento do câncer que, por sua vez, pode se apresentar em maior frequência ou de forma precoce em grupos ocupacionais distintos. Neste caso, considera-se que “o nexo causal é de natureza eminentemente epidemiológica”, e consiste na “…relação presumida entre a exposição pregressa no histórico ocupacional e o câncer primário diagnosticado”, no qual são empregados os conceitos epidemiológicos de “temporalidade, plausibilidade biológica e consistência com a bibliografia”. O suporte teórico, a coerência bibliográfica e a identificação das vias de exposição compatíveis com a tipologia são fatores importantes a serem destacados para fundamentar as análises de nexo causal do câncer com a ocupação (RIBEIRO, 2019)

No caso do CRT, os tumores se desenvolvem mais frequentemente nos órgãos considerados como porta de entrada e/ou eliminação, ou seja, que estão em contato direto com diversos agentes e substâncias carcinogênicas, como:

  • Pele;
  • Tubo digestivo;
  • Cavidades nasais;
  • Pulmão;
  • Trato respiratório;
  • Bexiga;
  • Rim.

Enquanto alguns dos agentes cancerígenos ocorrem naturalmente no ambiente, como o pó de madeira, a energia solar e a radiação, outros são de origem antropogênica, como por exemplo o 1,3-butadieno e o cloreto de vinilo.

O Câncer e suas Áreas

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Mundialmente, entre os principais agentes carcinogênicos estão o amianto, o trabalho por turnos (principalmente no período noturno), os óleos minerais, a radiação solar, a sílica e os gases do escape de motor a diesel. Já dentre as principais exposições ocupacionais a agentes encontram-se a construção civil, a indústria do metal, o setor de serviços, a mineração e vários setores manufatureiros. O câncer E a Relação Com o Trabalho

Profissionais de saúde, da limpeza, dentre outros, têm maior risco de acidentes por materiais perfurocortantes,
por exemplo, e maior chance de contaminação. Profissionais que trabalham com animais ou vísceras destes também são de maior risco de infecções, e por último, profissionais do sexo também apresentam maior chance de serem
contaminados com material biológico comparados à população geral.

O trabalho por turnos, o trabalho noturno e o trabalho sedentário foram recentemente considerados potencialmente cancerígenos. Os trabalhadores em turnos sofrem com uma interrupção do ritmo sono-vigília, levando à insônia e falta de melatonina. A exposição à luz no período da noite, incluindo um distúrbio do ritmo circadiano, possivelmente mediado pelos genes da síntese e secreção da melatonina, tem sido sugerida como uma causa contribuinte do câncer de mama.

No caso do trabalho sedentário (trabalho desenvolvido total ou parcialmente com ausência de atividade física), um estudo de caso-controle de base populacional sobre câncer colorretal, conduzido na Austrália Ocidental, de 2005 a 2007, sugeriu que essa modalidade de trabalho poderia aumentar o risco de câncer de cólon distal e câncer retal em longo prazo. O câncer E a Relação Com o Trabalho

Por fim, existem evidências de que o choque térmico também pode causar danos no DNA (ácido desoxirribonucleico) e que as células podem apresentar altas taxas de mutação por várias gerações sendo considerado como potencial fator de risco para a ocorrência de câncer (HINCHLIFFE et al., 2021; KUHL; LISSNER, 2017).

Considerando a complexidade das relações de produção, consumo, ambiente e saúde, essa vigilância deve compreender as exposições nos ambientes e processos de trabalho, utilizando-se de diversas metodologias e ferramentas para identificar os riscos aos quais os trabalhadores estão expostos a fim de reduzi-los e
indicar ações para minimizar as consequências dessas exposições para os trabalhadores, a população em geral e o meio ambiente. O câncer E a Relação Com o Trabalho

Tendo em vista a possibilidade de prevenção do CRT, entende-se que a redução da ocorrência de certas tipologias seria beneficiada com medidas de vigilância direcionadas ao banimento da extração, comercialização e uso dos principais agentes responsáveis por sua ocorrência, com eliminação progressiva nos processos de trabalho. Apesar dos desafios e dificuldades para prevenção do CRT, ressalta-se que limitar o acesso ao agente prejudicial por meio de programas de aconselhamento e apoio pode ser uma importante estratégia para o setor saúde.

Referênicas

  • Brasil. Ministério da Saúde. (2021). Atlas do câncer relacionado ao trabalho no Brasil: análise regionalizada e subsídios para a vigilância em Saúde do Trabalhador. www.saude.gov.br/svs.
  • Tratado de toxicologia ocupacional / Suelen Queiroz. –1. ed. –Rio de Janeiro.
  • ALCALA, Maria Unica.Cáculo de Pessoal.São Paulo: Prefeitura do Município de São Paulo, Secretaria de Higiene e Saúde, 1982.
  • ALMEIDA, Maristela Moraes de.Análise das interações entre o homem e o ambiente -estudo de caso em agência bancária. Florianópolis, Dissertação submetida ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da Universidade Federal de Santa Catarina, 1995.
  • MALARD, M. L.Brazilian low-cost housing: interactions and conflicts between residentes and dwellings. Sheffield: University of Sheffield. Ph.D Thesis, 1992.

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